Dicas de Gestão

Dica de Gestão #10: Os desafios da nova administração

7 Mins de leitura

Vivemos em momentos de números exponenciais, um momento da gestão empresarial em que fórmulas de sucesso do passado não garantem o sucesso do presente, e muito menos do futuro – isso não é novidade para ninguém. As empresas precisam reinventar a sua gestão. A questão central é como fazer isso sem deter a empresa, o que é um grande desafio.

Às vezes o gestor tem a certeza de que há algo errado, mas não entende o problema; percebe o lucro caindo, mas não sabe o motivo; vê claramente a qualidade indo pro espaço, mas não consegue reagir; sente que tem algo estranho acontecendo, mas não identifica a origem do problema. Isso é sinal de que o ambiente está mudando, mas que a gestão não está acompanhando. Em conversas com clientes percebo que esta é uma dúvida recorrente. Por isso resolvi pesquisar sobre o assunto e encontrei um artigo na Harvard Business Review, escrito por um conjunto de doutores em 2008, e cujo teor caiu como uma luva sobre a natureza do problema. Nele os autores observam que a administração dos negócios precisa mudar para dar conta das transformações das empresas. O conceito atual de administração foi lançado nos idos de 1865, nos Estados Unidos. A evolução da ideia de administração seguiu o traçado de uma clássica curva S: acelerada no início (no começo do século 20) e o ritmo foi caindo aos poucos.

Nos últimos anos, o avanço praticamente parou. A administração, assim como o motor de combustão interna, é uma tecnologia a ser reinventada constantemente. Uma das questões centrais é a mudança de comportamento tanto dos donos/diretores das empresas, quanto dos seus profissionais. Não cabe mais uma administração piramidal, onde todas as decisões são tomadas na cúpula. É importante que as camadas intermediárias tenham poderes para decidir, mas com competência para tal. Os líderes superiores precisam ser formadores de líderes intermediários, devem aprender a dar mais feedback, precisam alinhar valores para poder cobrar resultados, devem valorizar mais os que merecem subir. Para ajudar na reflexão, trago um pouco deste artigo que fala sobre 25 grandes desafios para a transformação da gestão das empresas. Acrescentei alguns elementos ao texto original para instruir a análise sobre as oportunidades de reposicionamento profissional dentro de uma empresa para que esta permaneça competitiva na próxima década:

1 Garantir que a gestão sirva a um propósito maior: a administração precisa ser voltada a metas socialmente relevantes. É importante sentir orgulho no trabalho.

2 Inserir a ideia de comunidade e cidadania na gestão: precisamos de processos que reflitam a interdependência de todos os grupos de stakeholders.

3 Reconstruir as bases filosóficas da administração: para erguer organizações que não sejam apenas eficientes, é preciso buscar lições em campos distintos como a biologia, a antropologia, o design, a ciência política e a teologia.

Eliminar patologias de hierarquia formal: há vantagens em hierarquias “naturais”, nas quais o poder flui a partir das bases e líderes emergem, em vez de serem nomeados. É necessário valorizar as novas ideias tanto quanto se valoriza a experiência, de modo a suscitar novos talentos.

5 Diminuir o medo e aumentar a confiança: falta de confiança e medo são péssimos companheiros para a inovação e o envolvimento, e devem ser erradicados dos sistemas de gestão. Só pode haver adaptação organizacional, inovação e envolvimento do pessoal em uma cultura de alta confiança.

6 Reinventar os meios de controle: para superar o conflito entre disciplina e liberdade, sistemas de controle tem que incentivar o controle pelos próprios indivíduos: em vez de restrições externas, precisarão depender mais de eficiência individual do que de monitoramento.

7 Redefinir o papel da liderança: a visão do líder como um heroico tomador de decisões e disciplinador é insustentável. Ele deve ser visto como arquiteto de relações sociais, um viabilizador da inovação e da colaboração.

8 Ampliar e explorar a diversidade: é preciso criar uma gestão que preze pela diversidade, sendo fundamental entender que talentos diferentes fazem uma empresa melhor. Culturas reunidas agregam mais valor.

9 Reinventar a estratégia como processo emergente: num mundo turbulento, a concepção da estratégia deve refletir os princípios biológicos da variedade, da seleção e da retenção. A diretoria não vai mais criar somente a estratégia, mas também condições para que novas possam surgir e evoluir naturalmente.

10 Desestruturar e desagregar a organização: para ser mais adaptável e inovadora, uma empresa grande precisa ser decomposta em unidades menores. Implica em não deixar que a empresa inteira tenha o Groupthink (pensamento grupal), mas criar estruturas fluidas, baseadas em projetos.

11 Reduzir drasticamente o apelo do passado: sistemas atuais de gestão costumam reforçar automaticamente os conceitos. No futuro, terão de promover inovação e mudanças. Sistemas de incentivos precisam mudar os gerentes que zelam pelas coisas para o empreendedor/inovador interno.

12 Dividir o trabalho de definir rumos: para que todos se envolvam, a responsabilidade por definir metas precisa ser dividida por meio de um processo no qual o insight, e não o poder, determina quem terá voz. Apenas num processo participativo é possível construir um compromisso sincero com a mudança proativa.

13 Estabelecer indicadores holísticos de desempenho: medidas atuais de desempenho precisam ser reformuladas, pois dão insuficiente atenção a capacidades humanas críticas para o sucesso numa economia criativa. Atualmente a gestão não leva em conta fatores sutis, porém críticos, do sucesso
competitivo, como o valor da inovação movida pelo cliente.

14 Ampliar horizonte de tempo e perspectivas de executivos: precisamos descobrir alternativas a sistemas de incentivo e remuneração que incentivem o gerente a sacrificar metas de longo prazo em prol de ganhos imediatos. A estabilização no longo prazo deve ser mais importante que o imediatismo.

15 Criar uma democracia da informação: é preciso ter sistemas de informação que equipem o funcionário para agir de acordo com os interesses da empresa. A transparência da informação é relevante para a eficácia operacional.

16 Fortalecer renegados e desarmar reacionários: sistemas de gestão precisam dar mais poder a funcionários cujo capital emocional está investido no futuro, não no passado. Aqueles que estão parados com o poder, gerentes e líderes do passado, têm interesse no status quo, travando o crescimento, razão pela qual é importante dar poder controlado aos espíritos inovadores e amantes da empresa.

17 Ampliar o escopo da autonomia do pessoal: é preciso reformular a gestão para facilitar a experiência local e iniciativas a partir das bases da cadeia hierárquica. Funcionários do meio para baixo da hierarquia se sentem incapazes de mudar, de inovar, o que não mais é cabível.

18 Criar mercados internos de ideias, talentos e recursos: um mercado é melhor do que uma hierarquia para alocar recursos das empresas. Para tornar os investimentos financeiros mais eficazes, a companhia deve criar mercados internos nos quais programas antigos e novos projetos disputem talentos e verbas em pé de igualdade.

19 Despolitizar a tomada de decisões: processos decisórios devem estar livres de vieses ditados pelo cargo e precisam explorar a sabedoria coletiva e fora da organização. Na hora de altos executivos decidirem se investirão milhões de dólares em um projeto precisam consultar a base da hierarquia, pois conhecerão melhor o mercado e descobrirão os melhores talentos.

20 Otimizar melhor trade-offs: sistemas de gestão tendem a contrapor opções mutuamente excludentes. É preciso ter sistemas híbridos que otimizem escolhas conflitantes cruciais. Será preciso conviver melhor com conflitos como lucro no curto prazo versus crescimento no longo prazo,
competição e colaboração, estrutura e emergência, disciplina e liberdade, sucesso individual e sucesso em equipe.

21 Explorar mais a imaginação humana: muito se sabe sobre como estimular a criatividade humana. É preciso aplicar melhor esse conhecimento à concepção de sistemas de gestão em toda a empresa e não apenas em um setor “tido” como de inovação e pesquisa.

22 Viabilizar comunidades de “paixão”: para maximizar o envolvimento do pessoal, a gestão deve facilitar a formação de comunidades em torno de uma paixão comum. É importante encontrar o que move os colaboradores, unindo grupos afins.

23 Reaparelhar gerentes para um mundo aberto: redes de geração de valor costumam transcender as fronteiras da empresa e podem tornar ineficazes ferramentas de gestão fundadas no poder. Para criar e dar forma a ecossistemas complexos é preciso ter ferramentas de gestão em que o líder precisa energizar e ampliar a comunidade, em vez de administrá-la do alto.

24 Humanizar a prática dos negócios: sistemas de gestão do futuro darão importância a ideias humanas eternas como honra, amor, justiça e comunidade, assim como dão a metas tradicionais como eficiência, vantagem, foco e lucro, já estas metas não conseguem tocar o coração humano.

25 Recapacitar mentes gestoras: o foco do treinamento de gerentes sempre foi ajudar o líder a desenvolver um arsenal específico de habilidades cognitivas: o uso do lado esquerdo do cérebro, o raciocínio dedutivo, a solução analítica de problemas e a engenharia de soluções. O gerente de amanhã precisará de novas habilidades, entre elas o aprendizado reflexivo ou de duas voltas (double-loop), o raciocínio baseado em sistemas, a resolução criativa de problemas e o raciocínio movido a valores. Faculdades de administração de empresas precisam reformular programas de capacitação para ajudar o executivo a adquirir este tipo de habilidade e reorientar sistemas de gestão para incentivar sua aplicação.

Desta forma, podemos observar que as empresas têm um desafio e tanto. Certamente, muitos dos conceitos apresentados neste artigo já são praticados pela empresa em que você trabalha ou por você como colaborador, de modo que temos que refletir até que ponto estamos nos adaptando ao mundo da gestão dos negócios. Todo processo de mudança é complexo, gera insegurança, traz dúvidas, mas este caminho não tem volta, sendo fundamental examinar as oportunidades que aparecerão em decorrência deste novo cenário.

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