Todo gestor de um negócio é um solucionador de problemas, é um profissional que fica o tempo inteiro tornando os processos mais produtivos, os setores mais ágeis, a empresa mais lucrativa. Para que isso aconteça, o gestor precisa resolver questões o tempo todo, vencendo obstáculos diariamente. E a forma como enfrenta os problemas faz toda diferença nos resultados.
É comum perceber que um determinado profissional tem melhores resultados do que outros. Ao pensarmos no motivo, concluímos, prematuramente, que uma pessoa é mais inteligente do que a outra. Isso nem sempre é verdade, pois a essência do profissional eficaz está em enxergar o obstáculo sob diferentes óticas, tornando mais fácil atingir os objetivos independente do caminho que percorrerá.
Isso pode ser bem ilustrado com o seguinte exemplo:
Em uma situação encontrada em um voo, havia uma criança infernizando os passageiros. Ela corria de um lado para outro, esbarrava em todos, derrubava notebooks e os copos de água. Alguns queriam dormir, mas as brincadeiras do menino eram barulhentas demais, o que causava irritação. Os passageiros começaram a reclamar, brigavam entre si e com o pai do garoto. Desta forma, o pai, meio constrangido, pegou a criança e colocou-a sentada com o cinto de segurança apertado. Porém, isso tornou a situação ainda pior, pois o menino gritava e chorava, não se conformando de estar preso.
O inferno estava instaurado, até que uma passageira chamou a comissária de bordo e sussurrou-lhe algo, fazendo-a ir à cabine do piloto. Instantes mais tarde o copiloto saiu da cabine, foi até o menino e perguntou se ele gostaria de pilotar o avião. O garoto, incrédulo, olhou para o pai, que o autorizou a ir com o copiloto dirigir aquela incrível máquina de voar. O menino ficou duas horas na cabine do piloto imaginando que pilotava o avião e o voo seguiu em paz.
Nesta situação, todos os passageiros olharam o problema sob a ótica pessoal e se manifestaram em função da irritação que sentiram, enquanto a passageira que falou com a comissária de bordo percebeu o problema sob a ótica do menino. Ao sugerir uma solução para a criança, ela acabou resolvendo o problema de muitas pessoas.
Muitas vezes, questões não são resolvidas por falta de percepção das alternativas possíveis sob a ótica dos outros. É mais cômodo olharmos sob a nossa ótica, já que esta é sempre mais clara para nós mesmos. Casamentos terminam pela mesma razão: cada um olha o problema sob a sua ótica, enquanto a compreensão envolve entender por que o outro sente algo que não percebemos no primeiro olhar. Um bom líder jamais toma uma decisão sob pressão, sem antes olhar muitas óticas envolvidas.
Uma boa orientação nesse sentido é a seguinte:
Ao se deparar com um problema, pense nas “pessoas impactadas” por ele. Quando conseguir identificar estes personagens, tente entender como cada um deles vê a situação. Se não conseguir interpretar, pergunte diretamente aos envolvidos. Uma vez que tenha entendido o problema sob várias óticas, tente imaginar o que poderia mudar no ambiente para contribuir para a solução.
Muitas vezes os caminhos alternativos são mais eficazes do que as estradas que confrontam diretamente a questão. O mais complexo é conseguir enxergar as alternativas sem se deixar influenciar pela nossa forma pessoal de ver a situação. No caso do menino do voo, a mulher que falou com a comissária de bordo conseguiu dar uma solução independente da irritação pessoal que sentia e, independente da sua vontade própria, ela conseguiu olhar a ótica do menino.
Na Alterdata Software, empresa na qual tenho muitas responsabilidades, sou solicitado a tomar decisões o tempo inteiro. Estas decisões nem sempre são fáceis, em função de trazerem grande impacto numa quantidade extraordinária de pessoas. Porém, na minha forma de agir, sempre tento, na grande maioria das vezes, pensar como no exemplo do voo, esforçando-me ao máximo para ver a situação sob várias óticas.
Um caso pertinente foi a situação em que uma líder nova do departamento comercial ia muito em minha sala pedir autorização para fazer certas concessões nas propostas comerciais para fechar negócios. Ela entrava na minha sala diversas vezes ao dia, interrompendo-me. O problema visível era a interrupção, que me incomodava. Eu poderia ter me irritado, reclamado, xingado, gritado, mas isso não resolveria. Eu poderia ter contratado outra pessoa, mas isso também não seria solução. Comecei a pensar sob a ótica desta líder, que na verdade estava insegura para tomada de certas decisões. A questão era mais psicológica do que técnica. Desta forma, fui gradativamente pedindo a sua opinião, questionando o que ela recomendaria que eu fizesse na situação apresentada, e quando a líder dava uma resposta com a qual eu não concordava, era orientada. Aos poucos ela foi aumentando sua assertividade, até que um dia eu a questionei: “Você já percebeu que eu sempre concordo com as suas sugestões?” Ela disse que não havia percebido isso. Na verdade, estava pronta para assumir riscos sozinha. Autorizei então que não recorresse mais a mim na grande maioria dos casos, me liberando para coisas mais significativas relacionadas à estratégia da empresa. Neste caso concreto, se eu me limitasse a ver o problema exclusivamente sob a minha ótica, não conseguiria resolver a situação. Tive que olhar do ponto de vista dela e entender sua insegurança para oferecer o que ela precisava: autoconfiança.
Não seja vaidoso ao ponto de achar que a sua forma de pensar e solucionar é sempre o centro do universo. O seu objetivo não é ter razão sempre, mas ter resultados concretos, é atingir objetivos e, portanto, são grandes as chances de a solução estar na visão outro.
Agora, pare e pense antes de tomar uma decisão em face a um problema. Lembre-se de analisar o entorno, pois a solução pode estar onde você não vê no primeiro momento. A ansiedade pode dificultar-lhe ser um bom líder, um excelente planejador, um gerente de primeira linha, um eficaz diretor de empresas ou, até mesmo, um bom cônjuge no casamento.