Estamos acostumados a dar maior atenção a quem fala mais alto. Somos condicionados a valorizar aqueles mais articulados e com poder de oratória. Contudo, nem sempre isso nos leva a ter numa equipe as pessoas mais brilhantes ou com o melhor desempenho.
A tendência natural de um líder é se identificar com pessoas afins, pessoas parecidas com ele próprio, fazendo-o estruturar uma equipe de iguais, quando, na verdade, o que faz a diferença numa empresa é a individualidade das pessoas. Há uma célebre frase que diz: “O poder de uma equipe é medido quando a fraqueza de uma pessoa é neutralizada pelo ponto forte da outra”. Isso quer dizer que todos temos pontos fortes e fracos, e o líder inteligente neutraliza o ponto fraco de um integrante colocando na mesma equipe alguém que tenha este mesmo ponto como forte.
Em 1920, o pesquisador Carl Jung forjou os termos “Extrovertido” e “Introvertido” em seu livro “Tipos Psicológicos”. Segundo ele, enquanto o introvertido se sente atraído para o mundo interior do pensamento e dos sentimentos, os extrovertidos preferem a vida exterior, que implica relacionar-se com outras pessoas e realizar atividades diversas. Mais recentemente, outros pesquisadores estudaram o assunto e descobriram coisas muito importantes nestas duas personalidades, deixando claro que cada um tem um brilho próprio muito relevante para as organizações. Os introvertidos se sentem mais vivos, com mais energia e mais confortáveis com a atividade desempenhada em ambientes tranquilos. Os extrovertidos, ao contrário, anseiam por ser estimulados e, quando não obtêm incentivos suficientes, começam a ficar entediados e infelizes.
O problema é que há uma tendência mundial de achar que os extrovertidos são os profissionais ideais, pois estes se sentem confortáveis sendo carismáticos e o centro das atenções. Se considerarmos que todos são iguais em capacidade intelectual, chegamos à conclusão de que os introvertidos possuem a mesma quantidade de boas ideias que os extrovertidos, porém estes últimos argumentam com mais desenvoltura. A empresa que dá ouvidos apenas aos extrovertidos está perdendo 50% de chances de ter boas ideias na transformação do negócio. O que é importante para uma empresa é o líder conter os extrovertidos nas reuniões para deixar que os introvertidos falarem.
Líderes introvertidos são uma grande chance de sucesso pelo alto grau de concentração que possuem. Assim, passam a ser analíticos vorazes e inspiram as pessoas pela sua capacidade de visão e organização. Logo, o sucesso destes líderes introvertidos está em ter subordinados extrovertidos nos pontos que exigem visibilidade, território que deixa desconfortáveis aqueles que possuem temperamento reservado. Com isso, o equilíbrio de uma equipe é estabelecido. A história demonstra: muitos líderes introvertidos alcançaram grande sucesso, como a ativista negra pelos direitos civis Rosa Parks; Eleonor Roosevelt, esposa do presidente dos EUA; e o líder nacionalista indiano Gandhi. Os três eram calados, falavam com suavidade e tiveram milhões de seguidores. Os introvertidos colocam-se no foco dos olhares por uma causa, não por uma necessidade narcisística – e isso é um elemento poderoso sob diversos aspectos.
Outro bom exemplo de líder introvertido é Warren Buffett, que atribui seu sucesso como investidor não só a seu conhecimento, mas também a seu temperamento cuidadoso e ponderado. Igualmente Albert Einstein e Isaac Newton eram tímidos assumidos.
Outro aspecto identificado em pesquisa recente pela Wharton University foi que os líderes introvertidos obtêm mais de seus subordinados porque tendem a lhes dar mais autonomia para pôr ideias em prática, enquanto os extrovertidos tendem a querer colocar sua marca pessoal em tudo o que fazem. Desta forma, é fácil concluir que uma empresa precisa que os extrovertidos forcem as coisas e assumam riscos sem constrangimento, mas também precisa dos introvertidos que observam cuidadosamente a situação toda.
Quando se fala de criatividade, a coisa complica ainda mais. Estudos demonstram que as pessoas mais criativas tendem a ser retraídas. Elas precisam de um tempo em solidão para pensar e criar, porém as empresas não ajudam quando não permitem este isolamento aos seus criadores. Um bom exemplo é o estrago que uma seção de brainstorming faz nos tímidos, se não for bem conduzida pelo líder, pois os extrovertidos ofuscam a presença dos introvertidos, perdendo-se assim grande chance de sucesso, visto que os tímidos podem, na maioria dos casos, ser os mais criativos.
Na Alterdata, empresa que fundei, temos uma preocupação contínua com os perfis de personalidade que existem nos grupos de trabalho, derivada da certeza de que cada um tem seu brilho próprio. Procuramos orientar os gerentes de setores que estimulem todos a participarem das reuniões expondo suas ideias, mesmo que seja um pouco mais complicado fazer com que o introvertido fale na frente dos colegas. Nossos líderes precisam ter a certeza de que uma empresa é um organismo vivo, que se transforma o tempo inteiro, e para que esta transformação aconteça é fundamental trazer à superfície o melhor de cada um.
Há uma tendência natural de o introvertido se achar menos poderoso do que o extrovertido, pois este último sempre aparece mais, podendo, até mesmo, em casos extremos, fazer o tímido se sentir com baixa autoestima. Porém, o profissional introvertido precisa saber valorizar seu poder de concentração e usá-lo para trabalhos de maior profundidade. É importante não tentar se igualar aos extrovertidos, deve-se potencializar tudo o que nele já existe de bom. Ser menos falante não significa menos eficiente, não fechará portas para o crescimento, não prejudicará a carreira. Se o tímido resolve, porém, exercer uma função incompatível com esta personalidade, jamais conseguirá bater um extrovertido típico.
Outro fator que precisa ser esclarecido para não gerar má interpretação é confundir uma pessoa introvertida com outra sem iniciativa. Uma coisa nada tem a ver com outra, pois é possível haver extrovertido e introvertido com iniciativa – e esta disposição é um dos elementos mais importantes para uma empresa. Não adianta o extrovertido usar todo o seu poder de argumentação se não é uma pessoa que vai para cima do problema, que resolve coisas sem precisar ser mandado. Uma empresa precisa de colaboradores que ajudem a enxergar o que está acontecendo e, para isso, precisa haver iniciativa, vontade, determinação, que não tem relação com ser ou não extrovertido. Desta forma, os líderes devem prestar mais atenção nos introvertidos, pois são grandes as chances de haver muitos talentos na empresa escondidos pela voz de pessoas que apenas falam mais alto.
Sendo assim, acredito ser muito importante que o líder coloque tarefas de alta concentração nas mãos dos introvertidos, coloque funções muito analíticas nas mãos dos tímidos, e quando precisar de algo a ser feito com grande profundidade, que mais uma vez busque os introspectivos. Contudo, todos estes precisam ter iniciativa.
Na Alterdata aplicamos o teste SOAR à maioria dos funcionários para identificar o perfil de personalidade e comunicação de cada um, tendo em vista trabalhar o que possuem de melhor, pois sabemos que uma equipe forte é feita de profissionais que se completam. Este teste classifica a pessoa em quatro categorias: dominante, extrovertido, paciente e analítico. Cada item, numa régua de valores, dá o grau de intensidade, facilitando à empresa alocar cada um na função em que tenha melhor desempenho.
Porém, quando a empresa é pequena, torna-se mais fácil entender a sua equipe, com a certeza de que cada um tem o seu valor. Cabe, portanto, ao líder focar atenção nas pessoas e não apenas no faturamento da empresa.