Já faz algum tempo que a preocupação com o meio ambiente deixou de ser exclusividade dos ativistas. A contabilidade ambiental é um exemplo disso, já que leva para o segmento contábil questões como impacto ambiental e preservação de biomas. Por isso, vários setores têm voltado seu olhar para a área, desenvolvendo novas técnicas e metodologias para o crescimento financeiro sustentável.
Assim sendo, a contabilidade ambiental é responsável por lidar com informações contábeis envolvendo ações ambientais de governos e empresas. Neste artigo, explicaremos em que consiste essa vertente da contabilidade, qual a sua importância e que funções desempenha dentro de uma empresa. Vamos esclarecer, ainda, o que é esperado de escritórios e profissionais que se dedicam a essa atividade. Continue a leitura para conhecer!
O que é contabilidade ambiental?
Basicamente, a contabilidade ambiental é a ciência usada para calcular o uso correto de recursos financeiros e naturais para que sejam sustentáveis. Dessa forma, a necessidade de lucrar passa a ser racionalizada, não se sobrepondo ao dever de preservar os recursos naturais no longo prazo.
No dia a dia, é possível encontrar setores ambientais dentro de organizações (normalmente integrados ao setor tradicional de contabilidade). Também existem escritórios exclusivamente organizados para as atividades ambientais.
A contabilidade “verde” levanta o patrimônio ambiental da empresa e monitora gastos e receitas oriundas da exploração de recursos naturais. Para isso, utiliza métodos e ferramentas para o cálculo de efetividade das ações junto ao meio ambiente.
Mas o setor não serve apenas como ferramenta para a organização manter o cálculo certo do seu impacto ambiental. Ele também é um difusor de boas práticas sustentáveis, otimizando projetos de outras áreas e propondo planos de ação ecologicamente corretos.
Quais as funções da contabilidade ambiental?
A contabilidade ambiental foca suas atividades em sustentabilidade. Isso significa que ela busca as melhores formas de obtenção de lucro, realizando cálculos para que recursos financeiros e ambientais sejam usados com consciência.
Que tal conhecer algumas ações específicas de contabilidade ambiental para entender melhor?
Registro do patrimônio ambiental
Pela ótica ambiental-contábil, os ativos ambientais equivalem aos recursos usados pela empresa para promover benefícios futuros. Esses benefícios, por sua vez, têm a ver com a proteção do meio ambiente e a conservação de áreas nativas.
Cabe frisar a diferença desse patrimônio para os recursos que reduzem os impactos ambientais. Nesse caso, trata-se de ativos operacionais, também conhecidos como “tecnologia verde”.
Inventariar esse patrimônio, portanto, é uma das funções delegadas à contabilidade ambiental. Ela também se responsabiliza por contabilizar os demais ativos, sempre considerando o potencial que eles tenham de agredir o meio ambiente.
O meio ambiente poluído pode acelerar a deterioração dos ativos operacionais expostos a esse meio. A redução da vida útil provocada por essa exposição, portanto, deve ser considerada um custo ambiental, uma vez que reflete as perdas decorrentes do meio poluído.
Adequação contábil para projetos ambientais
Atualmente, quase todas as empresas já realizam ações voltadas para a preservação ambiental. Isso implica pesquisar por materiais menos poluentes, atualizar seu maquinário para aumentar a eficiência ou mesmo implementar a coleta seletiva nos escritórios.
Cabe à contabilidade ambiental apresentar informações sobre despesas e custos, prejuízos e lucros de cada uma dessas ações. A preocupação, portanto, continua sendo financeira, já que as ações precisam ser lucrativas para a empresa. A diferença é que a contabilidade ambiental acrescenta uma variável, também levando em conta a efetiva preservação dos recursos naturais.
Adaptação de balanços e relatórios
Você certamente já conhece os balanços contábeis tradicionais, que registram as movimentações financeiras de uma empresa — como investimentos, gastos e ganhos em determinado período.
Esse tipo de documento é importante para a gestão interna, por ser utilizado para o controle financeiro cotidiano. Também é usado para formar uma base para a detecção de problemas que podem corroer os lucros, apontando caminhos para melhorias.
Nesse sentido, o que a contabilidade ambiental faz é agregar informações relativas ao uso dos recursos naturais pela empresa.
Um bom exemplo aqui diz respeito ao cálculo da quantidade de gás carbônico e de outros poluentes emitidos na atmosfera pela frota de veículos da organização. Além de dimensionar o impacto ambiental, a contabilidade calcula o custo envolvido para sua diminuição, eliminação ou reparação.
Seguindo com nosso exemplo de emissão de gases, a empresa poderia optar por investir no reflorestamento a fim de compensar a poluição gerada pela frota. A contabilidade ficaria responsável, portanto, por dimensionar os custos desse tipo de ação — com a compra e o transporte de mudas, a mão de obra necessária e assim por diante.
Gestão contábil do crédito de carbono
Institucionalizados com o Protocolo de Kyoto, os créditos de carbono objetivam a desaceleração do aquecimento global causado pela emissão excessiva de Gases de Efeito Estufa (GEE).
O processo funciona como uma espécie de banco: a princípio, cada país pode emitir uma certa quantidade de CO² na atmosfera. Caso emita mais que o teto, é possível adquirir créditos de carbono, gerado por quem manteve sua emissão de gás carbônico em quantidade inferior à estabelecida.
Essa sobra pode, assim, ser negociada. Vale ressaltar que o mercado de créditos de carbono não é aplicável apenas para governos, mas também para empresas. Cabe ao setor de contabilidade ambiental lidar com dados referentes à emissão de carbono e disponibilizar as informações contábeis de transações de compra ou venda do crédito das empresas.
Contabilidade de commodities ambientais
Commodities são produtos considerados matérias-primas essenciais para várias indústrias e são comercializados em larga escala. Alguns exemplos são o petróleo, o minério de ferro e a água.
As commodities ambientais, também conhecidas como ecommodities, trazem uma diferença crucial: todo o seu modelo de extração, produção e venda é feito com extremo cuidado em relação aos impactos ambientais.
A contabilidade ambiental funciona, portanto, como uma área de apoio para a transição do uso de commodities tradicionais para as commodities ambientais. Mas ela também é importante na diferenciação entre os usos de ecommodities e na contagem dos créditos de carbono.
Obrigação legal
A sociedade cobra cada vez mais para que os governantes tomem atitudes a fim de preservar os recursos naturais do planeta. Seja por meio de organizações como Greenpeace, WWF ou por ativistas como Greta Thunberg, o fato é que, hoje, o olhar das pessoas está muito mais atento às questões verdes.
Um resultado positivo dessa atuação surge na forma de acordos multilaterais entre nações para o cumprimento em conjunto de ações sustentáveis. O Protocolo de Kyoto é um exemplo do funcionamento dessa lógica.
Evidentemente, os governos precisam contar com a colaboração das empresas no cumprimento de suas obrigações a fim de alcançar as demandas da sociedade. Para isso, podem ser bastante coercitivos, exigindo o pagamento de taxas para financiar projetos públicos ambientais e multando empresas que agem irresponsavelmente em relação à exploração de recursos naturais. Em alguns casos, chegam até mesmo a proibir o uso de determinadas práticas e materiais.
Nesse contexto, a contabilidade ambiental surge como um mecanismo protetivo para garantir a segurança jurídica da organização. Ela calcula o pagamento de impostos e de tributos ambientais bem como os custos para melhorar processos de produção e as medidas necessárias para a adequação da empresa à lei.
Avaliação do passivo ambiental
Como os governos estão de olho na responsabilidade ambiental das empresas, é essencial que as organizações mantenham controle constante de suas obrigações contábeis em relação a ações voltadas para o meio ambiente.
Isso também ajuda a explicar por que negociações de venda, fusões ou mesmo mudanças de quadros societários demandam o levantamento do passivo ambiental corporativo — quanto a empresa precisa cobrir para neutralizar o impacto ambiental de suas atividades. Caso a empresa A estude comprar a empresa B, por exemplo, ela precisa saber quanto terá que investir para minimizar os impactos ambientais. Isso incluiria, por exemplo, a modernização da frota para diminuir o passivo ambiental causado pela poluição do ar gerada pelos veículos.
Da mesma forma, precisa identificar se existem multas ambientais a serem pagas ou se há projetos ambientais em andamento. Entre eles a instalação de painéis solares, sempre pela perspectiva dos impactos financeiros, contábeis e fiscais.
O que esperar dos contadores ambientais?
Agora que você já conhece as principais funções da contabilidade ambiental dentro de uma empresa, podemos apresentar algumas características fundamentais que os profissionais da área precisam ter, sempre lembrando, claro, que o conhecimento da contabilidade tradicional também é indispensável nesse contexto.
Conhecimento da legislação
A legislação ambiental brasileira pode ser bastante complexa, principalmente por envolver os âmbitos federal, estadual e municipal. Além disso, como leis e normas estão em constante mudança e atualização, as corporações precisam ter atenção redobrada.
É dever do contabilista ambiental aprofundar-se na legislação que rege seu cliente, orientando-o a respeito das melhores práticas aplicáveis para evitar problemas fiscais com o governo, além de sugerirem ações que possam ser positivas.
A adoção de práticas ecologicamente corretas na produção, por exemplo, pode ser o ponto de partida para a empresa conseguir subsídios governamentais ou créditos especiais.
Trabalho em conjunto
Para fazer um bom trabalho, a contabilidade ambiental precisa se envolver com os demais setores da organização. No caso da implementação de iniciativas para reduzir a emissão de gases pela frota corporativa, os contadores atuariam em junto à equipe de logística.
Compartilhamento de valores
Também é importante que o setor de contabilidade ambiental seja um difusor de boas práticas em toda a empresa. Para isso, o time pode se apoiar naquilo que sabe fazer melhor: usar os números.
Os contadores ajudam a dimensionar o tamanho dos benefícios para todos com a adoção de práticas sustentáveis por meio de índices quantitativos. A instalação de um sistema de reaproveitamento de água, por exemplo, além de diminuir o desperdício desse recurso, pode gerar uma economia direta de X% da empresa.
Principais vantagens da contabilidade ambiental
Considerando as características e as próprias atribuições dos profissionais na contabilidade verde, uma série de benefícios são imediatamente percebidos. São vantagens que valem não só para a natureza, mas principalmente para as empresas que fazem uso de métodos contábeis ambientalmente responsáveis.
Confira nos próximos tópicos.
Mais controle sobre as atividades
Todos os brasileiros maiores de idade lembram da tragédia na cidade de Mariana, (MG), em 2015, quando uma barragem de rejeitos de uma mineradora rompeu. Essa foi uma das maiores catástrofes da história recente do Brasil e suas repercussões ainda serão sentidas por muitos anos.
Se a empresa que causou o desastre tivesse uma contabilidade focada em reduzir ou minimizar os impactos ambientais, provavelmente teria, pelo menos, previsto o pior. Esse é um exemplo de aplicação da contabilidade ambiental, ou seja: ela ajuda a empresa a controlar mais de perto suas atividades. Dessa forma, ela se coloca em condições de antecipar danos ao meio ambiente de prevenir impactos de maior gravidade.
Evita multas e sanções
Embora a empresa responsável pela tragédia em Mariana ainda esteja às voltas com as indenizações, já se sabe que ela pagou cerca de R$ 41 milhões em multas. Claro que esse é um exemplo extremo, mas serve para ilustrar a enorme importância da contabilidade ambiental no sentido de evitar que a empresa sofra penalidades.
Ao garantir a adequação às boas práticas, ela não só ajuda a preservar os biomas como evita aplicações de multas por parte dos órgãos ambientais, sempre muito pesadas.
Pode gerar lucro
Você sabia que o tratamento de efluentes pela sua empresa pode até ser uma fonte de receitas? É o que fazem as empresas que investem em métodos de tratamento de esgotos, ao instalarem Estações de Tratamento de Efluentes, industriais ou não. Em alguns casos, gera-se um excedente de água que pode ser redistribuída, gerando novas divisas.
O mesmo fazem empresas, e até pessoas comuns como eu e você, que vendem a energia elétrica que sobra dos seus geradores de energia solar.
A chamada Geração Distribuída (GD) já é uma fonte de receitas para empresas, algumas até exclusivamente dedicadas à produção de energia elétrica nesses moldes. Trata-se de uma atividade regulamentada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), por meio da Resolução Normativa nº 482/12.
Melhora a imagem da empresa
O patrimônio tangível de uma empresa é composto por todos os seus bens materiais utilizados como meios de produção. No entanto, existe o patrimônio intangível, tão importante quanto os bens materiais se considerarmos o longo prazo.
Esse patrimônio invisível é composto por ativos como direitos de imagem, direitos autorais e, não menos importante, da própria reputação da empresa no mercado.
Quando se investe na contabilidade ambiental, a organização dá um passo importante para vender aos seus clientes e parceiros a imagem de uma empresa socialmente responsável. Assim, ela aumenta sua influência, já que passa a ser percebida como um lugar em que as pessoas pensam não só nos resultados, como nos impactos futuros de suas ações.
Uma coisa é certa: credibilidade é um bem precioso, leva tempo para conquistar e, se for perdida, dificilmente se recupera. Quando se evidencia a preocupação com o meio ambiente, a empresa sinaliza de forma inequívoca que é merecedora de confiança.
Alinha o negócio às boas práticas
Os profissionais de contabilidade ou de gestão da sua empresa já conhecem o Relatório Integrado?
Nesse tipo de documento, a empresa compila todos os seus dados e resultados financeiros, bem como seus desdobramentos sociais e ambientais. O modelo padrão foi criado pelo International Integrated Reporting Council (IIRC) e é cada vez mais usado, principalmente pelas empresas de ponta em seus segmentos.
Vale ressaltar que esse novo tipo de report é fruto de uma nova concepção de negócios na qual os impactos ambientais são contabilizados como parte da brand equity, ou valor de marca. Sendo assim, vem sendo tomado como referência por bolsas de valores para avaliar o quanto uma empresa vale.
Ou seja, organizações que não divulgam os impactos de suas ações no meio ambiente tendem cada vez mais a perder valor.
Essa é uma entre tantas boas práticas que sua empresa pode agregar quando conta com serviços de contabilidade ambiental. É uma das formas de se traduzir em números e em lucro suas iniciativas ambientalmente responsáveis.
Como aplicar a contabilidade ambiental nas empresas
Por outro lado, pode ser desafiador mudar todo um conceito de contabilidade baseado apenas em resultados e sem considerar os impactos ambientais. Dessa forma, a primeira medida a ser adotada é passar a registrar todas as atividades que exerçam impactos ambientais em números. Vale calcular a quantidade de carbono emitida por veículos e chaminés, por exemplo.
Em seguida, sua empresa deverá contabilizar todos os ativos e passivos ambientais, e, por fim, buscar a implementação da Norma ISO 14.001. Ela versa sobre os requisitos indispensáveis para implementar um Sistema de Gestão Ambiental.
De qualquer forma, a participação de seu contador ou empresa de contabilidade parceira no processo é obrigatória. Não deixe de consultar os verdadeiros especialistas antes de aderir à onda verde.
Viu como a contabilidade ambiental vem se tornando um setor-chave nas organizações? Para saber ainda mais sobre as tendências da contabilidade, assine agora mesmo nossa newsletter! Assim, você receberá as novidades do nosso blog em primeira mão, diretamente no seu e-mail!